26 de junho de 2010

"Vem, senta aqui..."

A razão está perdendo força. Pensamentos programados e calculados viraram lembrança de um passado errante. Não houve cálculos capazes de gerar um mínimo resultado positivo. A ausência de somas e as repetidas subtrações configuram o que sobrou de uma vida racionalizada. Não há o que fazer quando se abre uma porta, além de esperar o pode entrar por ela. O que está chegando tem a força de um futuro aliada à novidade constante de um presente bem vivido. Os pensamentos em sua forma bruta acabam tomando forma emocional. O chão fica mais macio e sem lombadas. Não há o que te derrube quando se sabe que o tombo não será só. O frio da razão é aquecido por qualquer volume de pele que encosta na sua, por qualquer encontro despretensioso de olhos. Um simples cheiro causa uma revolução estrutural, que atravessa o limite do corpo e acarinha a alma. A extinção do exato deixa as pernas bambas, mas nunca antes tão fortes. Chega a assustar que sentimentos piegas e frases clichês saiam tão naturalmente de uma mente que contava até os fios de cabelo brancos. Um sorriso constrangido com tanta sentimentalidade transborda da boca costurada a sangue frio e dedos trêmulos. O tempo parou de ser medido em números e teve a sua relevância reduzida ao movimento do sol e à consequente variação de luz. Os graus de importância resumem-se a estar e não estar. Tudo o que circula entre os estados intermediários busca naturalmente o seu lugar em alguma destas extremidades. E ali permanece como se tivesse nascido para pertencer a apenas um ponto. As palavras repetem-se sem cansar os seletivos ouvidos e trazem consigo um novo significado a cada momento em que deixam o silêncio acolhedor da boca. Entregar a razão aos matemáticos fez surgirem novas maneiras de ver o que os antigos olhos já não viam. Novas visões de antigas pinturas. Novas percepções de conhecidas perturbações. As barreiras têm a altura dos degraus em que encosto meu corpo. E a vontade de permanecer neles é inerente às novas sensações. Pulsantes, vivas e congruentes. Que os sonhos continuem ao lado, deixando ao longe a possibilidade da razão voltar a assombrar a minha recém descoberta sentimentalidade barata.

10 de junho de 2010

Exaustão



Sem disponibilidade mental para devaneios.
HD super ocupado com provas, Bibi Ferreira, opiniões públicas e muitos relatórios.
Após o furacão universitário, eu volto!

4 de junho de 2010

Valsa Polar

O silêncio é a mais evoluída das conversas. A mais difícil e a mais sincera. Quem consegue viver o silêncio em uma conversa de dois pode ser capaz de verbalizar qualquer som que seja. Ouvir uma combinação de respirações pode ser extremamente perturbador a quem não consegue ouvir somente a sua. O ar, ao sair dos pulmões sem a companhia de palavras, traz consigo a solidão que vive dentro e ninguém quer ver fora. O mudo é solitário e um simples som é a amnésia da solidão. Falamos porque não queremos ouvir a voz que não fala, mas também não cala. Eu gosto do silêncio. Também gosto de compartilhar silêncio com quem fala a mesma língua que eu. A não enunciação de sons entre duas pessoas pode criar uma sinergia quase utópica. Pessoas que se comunicam em silêncio pensam mais do que dizem e dizem mais do imaginam. Olhar nos olhos sem a trilha sonora falada é dançar uma valsa de memória, os passos seguem um ritmo próprio, com uma melodia sem cadência, mas que balança. Os olhos em silêncio veem diferente, perdem o desvio sonoro e focam-se no balanço dos olhos à frente. O silêncio tem o poder de aproximar as palavras que não combinam e afastar o que as separa. Se existe reza verdadeira, é feita em silêncio. Se existe prece atendida, foi pedida em silêncio. Se existe amor verdadeiro, foi compreendido com o silêncio. Só existe um silêncio vazio, aquele que, em algum momento, calou uma palavra.