18 de julho de 2010

3 vidas

Não faço por mim
Nem por ninguém
Faço pelo sonho
Faço por um amanhã
Cansada de caminhar por essas ruas
De viver os mesmo rostos
Temendo os conhecidos monstros
A ânsia de mover degraus corrói as mãos
Transformá-los em planícies com grama
Deitar o corpo para nunca mais levantar
E soltar alguns leves risos de sossego
A escuridão que abraça meus passos
Impede que a luz aproxime-se deles
Apenas sinto o que vem
Com a visão turva de quem fica confortável vivendo a penumbra
Quase nada me impede
Apenas o que sobreviveu a mim
Minhas angústias não te alcançam
O limite da pele as prende
Mesmo com a vontade de arrancá-las
E deixar o sangue afogar seus gritos
As tentativas frustradas
Moram perto da ousadia de mudar
Ir para casa não mais acolhe
Percorrer o mundo vizinho
Faz esquecer as mazelas do meu
E sigo sem o velho destino
Deixo este preso ao que não foi
É melhor não ver o que vem
A manter a visão presa ao que não volta
Meu labirinto não mostra alternativas
A perdição insiste Só uma direção
No escuro Ao centro Retornar cansa mais
Vou seguir
Ainda me restam algumas vidas
Até...

10 de julho de 2010

Sem tapete

Eu escolho minhas batalhas
Seleciono as armas
E, principalmente, as que não merecem ir à guerra
Um exército de somente um soldado só
Não o mais forte 
Mas o que ainda consegue lutar
E se propõe a enfrentar doenças e submundos
Os fantasmas do passado
Conflitos presentes
Com coragem e ousadia para sonhar o futuro
Não me acompanhe
Esse pode ser um caminho sem volta
A vida só é garantia no início
O que se segue é sobrevivência
Resistências ao ataque amigo
Não há inimigos no caos da unidade
Também não há um fim no perímetro
As munições esgotam-se
A blindagem renova-se a cada golpe
Para enxergar a paz
É necessário submergir-se na poeira
E apenas meus olhos são treinados para percebê-la
Não preciso que compre minhas lutas
Apenas esteja aqui
Quando o cansaço dominar-me
Escute o silêncio de um combatente
Sem força para as palavras
Mas crente no recomeço

7 de julho de 2010

"Here am I floating round my tin can / Far above the moon / Planet Earth is blue, and there's nothing I can do..."

A viagem é sempre longa. De Paquetá ao Japão. Os quilômetros de minutos de que preciso fazem da minha estrada um caminho sempre longo. Não importa o destino, são os passos o que sempre percorro. Cada flexão de joelhos, cada milésimo de milésimo de segundo em que os pés não tocam o chão. É esse o momento que faz uma viagem valer à pena. Nunca lembramos o que deve ser lembrado. Nem sentimos os pés ao ar, mas eles permanecem assim pelo tempo necessário para não nos fazer beijar o chão. O chão é território dos pés. A boca deve sempre olhar o horizonte. À frente dos olhos e sob a singela sombra do nariz. A minha viagem não precisa de espaço e, muito menos, da mudança de um para outro. De que adiantaria mudar-se para outro mundo com a mente presa à origem? A viagem perfeita é aquela feita no ônibus do desprendimento e que permanece no presente. O que me faz andar milhas é a simples vontade de movimentar as pernas. E os pés. Acompanhados dos joelhos trabalhadores. O resto é só o resto. O corpo apenas se move. O que faz a viagem é a necessidade de, por algum instante, abandonar o chão que te prende à sua realidade. E ela é tão forte que resiste muito pouco tempo. Os pés são logo puxados com urgência, para o chão senti-los acarinhando sua superfície áspera. Não é a gravidade que te mantém presa, é o medo do chão de perder seu andarilho para aqueles milésimos de milésimos de segundo livres. Essa sensação deve ter esse curto espaço de tempo para eu nem sequer imaginar essa liberdade perdurando. Seria como viver de devaneios e acreditar nos sonhos mais calados. Talvez encontrar um dicionário que te ensine a viver a felicidade ao invés de pronunciá-la como um simples objetivo/substantivo. A viagem é fuga ao encontro desse momento esporádico. Há quem precise percorrer o mundo. Eu sou barata, só um papel e uma superfície sólida me bastam. Nem preciso não tocar o chão com os pés para senti-los não sentirem nada. Já gravei na memória essa sensação e é ela que persigo e persigo e persigo. Fazer de um quase insignificante um permanente. Lembro-me quando movia os pés aceleradamente, sempre acompanhados da água salgada liberada pela pele. Talvez, a adrenalina seja um jeito do corpo abençoar a busca pela ausência do chão. Você corre e corre para permanecer cada vez mais sem o chão, mas, ao mesmo tempo, você precisa dele como trampolim. Só se viaja com uma realidade solidificada para te impulsionar e incomodar. Mover os pés com velocidade é o mais próximo que se pode chegar de um mundo paralelo; com os dois pés ao ar e sobrevoando. Sinto pena e um profundo incômodo de quem não almeja essa viagem antigravitacional. Abster-se do estado mental do chão é dar lugar a uma viagem existencial saudável e viciante. Andar faz circular o sangue e qualquer ideia de vida circulante por ele. Talvez eu consiga isso pelo papel também. Os diversos segundos que a minha caneta se afasta do meu chão artificial e dá espaço aos novos pensamentos, novas letras, vogais e quebras de linha. Ou talvez não seja nada disso. Não sei... Só sei que viajo porque preciso. Volto porque quero.