4 de junho de 2010

Valsa Polar

O silêncio é a mais evoluída das conversas. A mais difícil e a mais sincera. Quem consegue viver o silêncio em uma conversa de dois pode ser capaz de verbalizar qualquer som que seja. Ouvir uma combinação de respirações pode ser extremamente perturbador a quem não consegue ouvir somente a sua. O ar, ao sair dos pulmões sem a companhia de palavras, traz consigo a solidão que vive dentro e ninguém quer ver fora. O mudo é solitário e um simples som é a amnésia da solidão. Falamos porque não queremos ouvir a voz que não fala, mas também não cala. Eu gosto do silêncio. Também gosto de compartilhar silêncio com quem fala a mesma língua que eu. A não enunciação de sons entre duas pessoas pode criar uma sinergia quase utópica. Pessoas que se comunicam em silêncio pensam mais do que dizem e dizem mais do imaginam. Olhar nos olhos sem a trilha sonora falada é dançar uma valsa de memória, os passos seguem um ritmo próprio, com uma melodia sem cadência, mas que balança. Os olhos em silêncio veem diferente, perdem o desvio sonoro e focam-se no balanço dos olhos à frente. O silêncio tem o poder de aproximar as palavras que não combinam e afastar o que as separa. Se existe reza verdadeira, é feita em silêncio. Se existe prece atendida, foi pedida em silêncio. Se existe amor verdadeiro, foi compreendido com o silêncio. Só existe um silêncio vazio, aquele que, em algum momento, calou uma palavra.

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