27 de janeiro de 2012

Rabisco e algumas histórias

Vou escrever uma história diferente. Com início ingênuo, meio intenso e fim banhado em calmaria. A pureza inicial salvaria a correria do caminho que repousaria na grama posterior. Você cruzaria minha estrada num momento pleno de certezas. Nossas almas estariam prontas uma para a outra e o calor corpóreo em seu ápice de vivacidade. Viveríamos anos e, por que não, muitos deles, desfrutando do melhor que encontraríamos pela frente, sem pedras ou desvios. O amor seria o alimento perfeito às mentes racionais, trazendo leveza aos dias pessimistas. Eu olharia nos olhos alheios e saberia que tudo faz sentido. Em todas as diversidades, buscaríamos conforto nesse sentido. A única certeza que somente nós saberíamos. E o sono seria composto do escuro mais claro possível. Sem medos e passados, apenas as memórias presentes no belo presente habitariam nossos sonhos. Sempre bons e para o bem. Dormir seria uma benção aos dias que passam e deixam a vontade de mais. E teríamos sempre o mais, mas nunca demais. Após cem anos, deitaríamos na grama para descansar das diversas vidas vividas com perfeição. Olharíamos um ao outro, buscando aquela pessoa que olhamos a primeira vez. Ela desaparecera antes mesmo de surgir. Havíamos esquecido de vivermos nós antes de viver a vida. A perfeição foi a perdição. O fim para o nosso começo e o fim para o que poderíamos ter sido como um e dois. Vimo-nos estranhos à nossa pele e sedentos daquela ingenuidade e cansados da intensidade. A grama estava lá, cumprindo seu papel dentro da história que escrevemos, mas esquecemos de escrever o seu significado. Ela apenas amparava o corpo que não apreciava mais a verticalidade.  Nada, além disso, fazia sentido. O sentido que sentimos por todo o caminho foi percebido como fugaz e momentâneo. Sem continuidade de significado. Ficou preso a prazeres locais e rápidos. Velozes como tudo que passou e facilmente esquecidos. A perfeição cegou os olhos para dentro de nós. E passamos a ser a estrada percorrida de olhos fechados. Lembramos dos erros deixados de lado, das pedras desviadas, das dores ignoradas. Pensamos em como isso nos fazia falta agora, na calma horizontal da grama. Provoco-te uma briga, mas não aprendi o que estimula sua insanidade. Também não conheci a minha. A calmaria do fim entendia nossas almas e olhamos o relógio em busca de mais tempo para voltar no tempo. Dou-te um passar de mãos no rosto com mais violência. Nós não conhecíamos a violência, somente a dos nossos corpos demonstrando vontade de juntar dois corpos. Mas a perfeição do meio da história não existia mais. Éramos duas carcaças estendidas perto, afastadas por cem anos de desconhecimento e desejando desaparecer. Como desejávamos a dor! Os joelhos lisos latejavam pelo desconhecido sabor do sangue, mesmo que pouco. Você segura minha mão, procurando alguma segurança. Eu retribuo, na mesma busca.  Desistimos. Levantamos da grama e seguimos para outros espaços, levando conosco a esperança de ter mais tempo para errar e nos reencontrar depois. Com a esperança de nos apaixonarmos. Ainda. Acima de tudo. Apesar das imperfeições. Além do que descobriríamos. 

21 de janeiro de 2012


Caio. Levanto.
Tropeço. Ergo.
Falo. Desculpa.
Choro. Seco.
Vou. Volto.
Erro. Recomeço.
Violento. Acarinho.
Machuco. Amo.
Ajo. Prometo.
Fico.
Não vou.
Seguro sua mão.
Junto à pele.
Sua respiração diverte-se nos meus fios.
Enquanto busco encaixe no meu espaço.
Como é bom voltar pra casa. 

11 de janeiro de 2012

Meu olécrano apaixonou-se pela superfície

Recolho os cacos. As lágrimas caíram ao chão e ferem os pés. Fecho a porta para que meus barulhos não façam barulho à minha volta. A falta do soluçar deixa seu vazio; aquele cansaço que, por alguns segundos, faz aparecer uma falsa calma. Sem ele, os vidros cortam sem recompensa. É em vão. A dor permanece ativa e os sorrisos a quem não a escuta enche seu ego. Ela cresce, querendo aparecer e mostrar-se viva. Eu apenas sobrevivo à sua força, vencendo as contrações involuntárias do diafragma. Calando-as. As melodias iniciam seu trabalho. Acompanhadas por suas palavras, ganham espaço, tomam ouvidos, invadem a alma. Esse órgão intocável se desvencilha, protegendo-se de mim para mim. Os olhos te procuram. Limpo os dedos que limpam os olhos e nada veem. Busco na face o reflexo que não é meu. Quero ver mais. Ou sentir menos. Recolho alguns cacos e guardo. Amanhã pode não ter memória. 

7 de janeiro de 2012

No quiero


Olhos fechados para não ver o que você não deseja ver. Meus olhos choram vermelho e os seus suam. Suor feliz. Abençoado pela ignorância e gozando por prazer.  Os meus derretem com a bênção de ver além; além do que o corpo suporta. A sangue frio. Sem prazer. Este, deixo a você, que segura junto às mãos o que mata e arrepia. A anestesia da mente não faz rir ao lado. Não há lado. Apenas um. Dividido em dois. O que salva e o que adoece. Dói em mim. A fumaça à volta não faz inodoro o sentir. É claro por meio das nuvens envoltas às nossas cabeças, vazias pelo tempo e cansadas demais para tentar racionalizar. Sentir parece o remédio mais palpável para deixar seguir o que não pode voltar. Falar cansa. Adoece as palavras tão amáveis sob meus dedos e distantes da realidade, que é onde devem permanecer. Eu deixo minha mente repousar sobre o silêncio, enquanto busco anestesia suficiente para morfinizar o que não há remédio. Mordo os lábios por mania. Há esperança de alívio na escolha de poder machucar ou não. Escolho o não. Agregar dores não ajuda, mas eu flerto com a possibilidade de. Jogo com elas o tempo todo que me resta para pensar. Balanço nas polaridades enquanto observo meu cinzeiro completar-se. E lembro das extremidades que me fazem cair. Fujo delas como das morfinas que atormentam as sanidades, minhas e suas. Não há oceano capaz de afoga-las. As ondas vêm e cegam. Sal de água, sangue e suor. A mistura de prazer e perdão capaz de deixar sem beleza a mais bela margarida. Aquela que prega sua simplicidade como possibilidade para o que houver. E as pétalas caem. Ocupam seus lugares desorganizados no chão que conhecem. O belo perdura ali. Suaviza o falo da terra. Traz paz. Mas não a mim. 
Tenho sementes.