21 de setembro de 2010

Compra-se tempo

Não, eu não tenho mais tempo. O que me restava ficou preso a um passado fechado para manobras; impossível de fazer voltar. Correr atrás do que foi perdido corrói meus sonos mais profundos, transforma-os em noites claras com olhos fechados; um descansar cansativo. O fim do túnel confunde-se com o do poço e a capacidade de diferenciá-los enfraquece a cada noite e seu despertar. A luz do dia não traz mais clareza do que trouxe no dia anterior, é apenas uma repetição potencializada pelo tempo de mais um dia. 24 horas que não mudam nada além dos números no calendário. A esperança que sempre me acompanhou permanece em um constante coma, respirando por aparelhos alimentados pela frustração de tentar demais ou de menos. A tentativa de consertar tentativas forma um círculo vicioso, um círculo de reciclagem sem as vantagens do reaproveitamento. Nada do que foi perdido pode retornar e se encontrar, deixa apenas a sensação de vazio, de falta. Escrever tornou-se uma dor latente. Ver as palavras assumirem o papel de desabafo calado faz delas um espelho de uma mente cansada de funcionar e sem coragem para voltar a enxergar. Mas talvez seja esse o caminho a seguir; tornar visível aos olhos o que é silenciado pela culpa e assim voltar a tentar. Tentar e tentar e tentar. Até que o cansaço domine o corpo de novo. Passar a compreender que a renovação é de energia e não de fracassos; que o cansaço e as cãibras são consequências do esforço e não da inércia. É difícil. Ser fraco parece ser mais fácil do que assumir as consequências dos próprios atos e seguir caminhando. Mas agora está feito o que deveria estar feito. Assumi meu compromisso com as palavras, não posso apagá-las. Minha borracha não as alcança. Verbalizar fraquezas tem o mesmo poder de gritá-las ao mundo. Acabei de gritar e minha garganta sente a potência da própria voz. Não há o que ser calado, nem apagado. Só me falta aprender a não pensar no tempo e o seu tempo de acontecer, trazer a sua particularidade para um e não para o comum. Continuar tentando é o que resta.

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