5 de abril de 2011

Gerundiando

Ô... Saudade do tempo. Tempo em que o tempo não me faltava e o que eu tinha não me empurrava vida afora. A madrugada não me cobrava fechar os olhos e a luz do dia não forçava o abrir deles. A nostalgia da época em que eu tinha os maiores problemas do mundo (e ouvir músicas tristes curava grande parte deles) faz rir a menina que abandonou os saltos. Os pés agora andam rentes ao chão. Sentem mais, vivem mais e padecem mais. Na altura certa dos meus olhos vejo a minha altura perder-se meio à multidão que passa. Os olhares que cruzam os meus não dizem muito além do que imagino. São vazios perdidos na megalópole emocional, onde tudo se perde e pouco se absorve. A terra é rara e as gramas são enfeites de rua, com o sol derretendo à música de buzinas e soltas entre brechas de cimento. Sobreviventes ao homem. Assim como nós, o que resta de natural surge escondendo-se e camuflando-se entres os muros construídos por quem achou que sabia o seu papel. Nos prendemos ao caos e libertamos nossa sanidade ao outro. O que está ao controle é a total falta de responsabilidade pelo que não controlamos. Nos livramos do que não podemos ter e nos atemos apenas ao mínimo de consciência prática do que temos. E assim, tudo o que é válido na vida vai perdendo seu significado até deixar de ser. Transforma-se na vertente que a gente esconde ou da qual se esconde. Eu limpo os olhos para ver, mas quero, muitas vezes, cegá-lo para não mais sentir parcialmente existir. O inteiro me cobra um pedaço que se perdeu há anos atrás, do qual restou uma singela lembrança e uma nostalgia que não acompanhou o tempo. Rendeu-se a ele, mas passou a ter mais significado do que todos os outros que ficaram. Persigo um labirinto sem falsas entradas e apenas uma saída. Faço desse caminho o meu e vou e volto e retorno e fico, mas não saio. Só vou cruzar a linha final quando recuperar as peças e rejuntar as que ainda couberem na forma nova. A forma antiga eu prefiro abandonar junto ao muro que a construiu. O pensamento fica na grama que venceu seu chão. Ô saudade... Saudade do tempo em que eu não pensava nisso e o tempo que eu tinha não era usado para tentar entender o tempo do qual tinha saudade...

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