9 de outubro de 2011

Não digo ponto

Busco conforto nas palavras imagináveis. Elas me dizem um mundo melhor, vida calma. Fazem aparecer o caos e o silenciam em seguida. Olho ao redor do meu corpo e nada parece contemplar o sentimento de não estar aqui. Quero diferente. Tirar as correntes que me prendem ao que passou e passar a acreditar que o presente é diferente. O que separa o diferente do novo é o apego. Pego o que preciso para continuar e preciso deixar visões cegarem-se. Comerem-se. Devorarem-se. Matarem-se. Não interfiro na dor que surge. Ajo inconscientemente. Não atravesso portas e não olho no espelho, pois o reflexo delas também fere. Invento uma palavra nova por diversão. Seus significados e sinônimos impedem que o oposto fale. Somente o bom se pronuncia. A palavra é minha e seu som é música para meus ouvidos. Desenho seu formato com a pouca habilidade que tenho para isso. Ângulos e assimetrias. Sem mais linhas e pontos. Seus cortes e furos não geram melodia. Halo de tristeza. E eu quero é estender os lábios. Aos lados. Lados secos. O suor é o único a transpor a pele. Minha palavra quer viver. Sair de dentro e entrar para fora da mente. Existência real pode ser melhor do que repetir-se aqui. Ganhar antônimos é saudável à sobrevida. Fugir do espaço não o faz desaparecer. Ele me acompanha e seus pesadelos acompanham meus sonhos, acordados ou não. A palavra é pronunciada e seu efeito perde força. Sua potência era interna. A realidade não a merece, não a que construí, não a que permiti. Desvio do que está vindo. Vou destruir sua estrutura e me encaixar nos ângulos que confio. A palavra sorri. Sabe que ali cabe. Mas ângulos surgem de linhas, não adianta fechar os olhos. Ali estão e aqui vão permanecer. Canso. Ela cansa. A força das duas repensa se vale a pena. Eu continuo. Minha palavra se mata com um ponto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário