19 de agosto de 2010

(In)dioma

O que te move? O que te compra? O que te vende? O que te consome e bebe em um só gole? Gole vivo e de vontade avassaladora. As borboletas no seu estômago reviram-se por quem? Pelo quê? Em um universo de nomenclaturas e falsos desejos de consumo de pessoas, comida, livros, informação e todo o resto que atrai um corpo faminto, o que faz o seu corpo ansiar pela sensação de quase morte?
Não existe forma de responder aos desejos corpóreos. Ou talvez somente quem encare o seu próprio corpo de frente consiga. Dizem que ele fala, mas fala diferente aos ouvidos internos e aos olhos externos.
Tesão.
Palavra censurada. Palavra viva em todos os que têm vontade. E todos têm vontade. Palavra que atrai corpos, faz escolhas e define quem somos e pelo quê somos. Nossa pulsão por vida ou morte vem dela. A maneira como vivemos é direcionada pelos desejos, inclusive os mais ocultos do nosso corpo.
Corpo.

A rede de circulação de sangue também faz mover o destino. Não o traçado, mas o que seguimos por pulsão, tesão, vontade. O aspirado e conquistado(?) livre-arbítrio nada mais é do que a satisfação de um corpo que quer algo e não se deixa limitar por uma instituição qualquer, seja ela Estado, família ou religião. Pré-conceitos não falam a mesma língua de um corpo que fala.
O eterno confronto “lado racional X lado emocional” tem seu significado reestruturado e arrumado conforme a satisfação ou não de uma pulsão. As impulsividades sinceras perdem o tom reprovativo e tornam-se guias naturais de não-escolha. Apenas acontecem. E assim são. Sempre múltiplas, diferentes e até divergentes.
Limite.

O corpo não aprende limites. Tem o seu próprio e esse é o único que sabe respeitar. Dizer ao corpo o que não desejar tem a mesma consequência de dizê-lo a uma parede. Nada. Talvez aqui caiba a única dificuldade de seguir tesões: como fazer todos conviverem. Os meus podem ir contra os seus e cria-se uma regra para ordená-los e tornar a convivência possível. Assim é estruturada a sociedade, a partir da condenação das pulsões mais violentas à coexistência de mais de um. Se são válidos ou não todos esses impedimentos é outro assunto, muito mais abrangente e fora do meu tesão de escrever. Pelo menos do que estou sentindo agora. O que importa é aprender a dar vida ao que se sente.

Arte.
Não existe arte sem tesão. Da arte de viver à arte de criar. A expressão do corpo resulta nas mais belas visões, audições e sensações. Quem consome e produz o desejo do corpo entende o que está sendo dito. As ansiedades e frustrações são atenuadas drasticamente ao ganhar o mundo exterior. Nossos sentimentos foram feitos para viverem dentro e fora; os tesões não devem ficar presos ao limite da pele.
Não restrinja o pensamento. Escreva, crie, desenhe, pinte, filme, interprete, fale, grite! O entendimento e a compreensão de quem te consumir não importam. Se o seu tesão não fere a alma de ninguém, deixe-o ganhar outros corpos.

Um comentário:

  1. "Antes arte, do que tarde" -..antrociberdelia !

    Saraváh..again !

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