11 de março de 2011

Alimento.

Eu tenho medo. Da morte da mãe, da falta de paz. Há anos, a luta para reerguer meu império de cristal vê seu esforço perdido entre partes soltas, com resistência ao espaço vazio e não mais unindo faces. Remendas insustentáveis mesclam-se à incapacidade de sustentar a alma. O medo de errar cresce e só é superado pelo medo de não conseguir enxergá-lo. Achar que se está certo pode ter o efeito devastador de não perceber o erro. Tenho medo do medo dos outros. E da coragem também, pois esta, quando nasce da pessoa errada, pode ferir a pessoa certa. A proteção construída por repetidas quedas não faz mais seu papel no consciente e lateja no escuro. Os muros caíram, restam apenas pedaços disfarçados entre os escombros e sujos de poeira. Não lembro quando o primeiro tijolo abandonou sua forma completa e ganhou vida só. Tenho medo do vazio que ele deixou. E sinto a falta de todos os outros que acompanharam sua trajetória. Preciso. A solidão na minha mente não se satisfaz com as presenças fora do corpo; prefere os ecos de seus próprios pensamentos. E se alimenta deles. Se exausta deles. Overdose antropofágica. Doença à saúde e beleza ao corpo. A loucura mental fez da beleza a peneira dos olhos com dedos entreabertos. A criança fecha quando incomoda, mas abre para alimentar a curiosidade. O monstro do filme não a alcança quando protegido os olhos estão. Minha criatura também não vai atacar. Está entorpecida por substâncias produzidas pelo organismo vivo em que habita. Sem alucinações, a onda vem a sangue frio e cortando a pele. A dor não sobrevive ao veneno e morre ao chegar onde se faz sentir. Mas ninguém vai ver. Também tenho medo do que sai por esses dedos. As palavras não possuem a liberdade censurada necessária. E tenho que as engolir sem lubrificante auricular e a sua luz cegando os olhos desavisados. Meus anticorpos não reagem a mim, apenas ao que vem de fora. O que nasce aqui é consumido até última gota e a minha língua trata-se de correr atrás dela. Nada parece fazer sentido e perder-se em meio às linhas e letras não surti o efeito desejado. É melhor parar. Prender a respiração por um tempo, enquanto o cérebro limpa a sujeira da droga humana. Vou acender um cigarro e alimentar o amarelo dos dedos. Esse medo é do bom.

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