9 de setembro de 2011

Branco



Sinto um corte abrir a pele. Com carinho, ele adentra o corpo que não lhe pertence. Bebe meu sangue e diverte-se procurando fantasmas sob a dor de outro. O olhar de medo de enxergar-se frágil transforma fraqueza em expansão da dor. Cabe em mim. Vem a mim. Sobrepõe-se ao que restar de mim. Seu alívio pensa ganhar suavidade e vida na alma calma que não é sua. É minha. Ou era. Quando existir era ser.

Restou pouco. Da pouca certeza presente, o pavor de fechar o corte arde na incerteza. Dor. Dor na pele. Eu até que gosto. Como saber sobre vida se flertar com o escuro faz você acender a luz? Escuro assusta. Não pela falta de visão, mas por trazer as evitadas. Fugimos dela, escondemos corpo, pedaços dele, partes soltas e juntas. Desconstruímos palavras e destruímos quem as pronuncia.

A pele rasgada não fecha. A mão que aqui estava não terminou com o que se propôs a fazer. Ainda há pulso e o pulso pulsa em doer. Arde sem fim determinado. Um copo vazio ainda transborda seu álcool na carne. Limpa e mata para as margaridas nascerem puras. Pureza artificial e programada para fazer feliz. O branco ilumina as cores antes camufladas. Consigo finalmente ver tons. O vermelho era vivo, vivo como a vida que fugia de mim. Ou tentava. Não foi. Seguro com forças. Assim, no plural. Forças de membros. Membros meus. Unidos por mim.

O vermelho se vai, sem que eu apreciasse a totalidade de sua cor. O que o trouxe também não sentiu seu tom. Escorreu da minha pele para perto. Sempre perto. Perto porque quero. Perto porque longe dói.

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