7 de julho de 2010

"Here am I floating round my tin can / Far above the moon / Planet Earth is blue, and there's nothing I can do..."

A viagem é sempre longa. De Paquetá ao Japão. Os quilômetros de minutos de que preciso fazem da minha estrada um caminho sempre longo. Não importa o destino, são os passos o que sempre percorro. Cada flexão de joelhos, cada milésimo de milésimo de segundo em que os pés não tocam o chão. É esse o momento que faz uma viagem valer à pena. Nunca lembramos o que deve ser lembrado. Nem sentimos os pés ao ar, mas eles permanecem assim pelo tempo necessário para não nos fazer beijar o chão. O chão é território dos pés. A boca deve sempre olhar o horizonte. À frente dos olhos e sob a singela sombra do nariz. A minha viagem não precisa de espaço e, muito menos, da mudança de um para outro. De que adiantaria mudar-se para outro mundo com a mente presa à origem? A viagem perfeita é aquela feita no ônibus do desprendimento e que permanece no presente. O que me faz andar milhas é a simples vontade de movimentar as pernas. E os pés. Acompanhados dos joelhos trabalhadores. O resto é só o resto. O corpo apenas se move. O que faz a viagem é a necessidade de, por algum instante, abandonar o chão que te prende à sua realidade. E ela é tão forte que resiste muito pouco tempo. Os pés são logo puxados com urgência, para o chão senti-los acarinhando sua superfície áspera. Não é a gravidade que te mantém presa, é o medo do chão de perder seu andarilho para aqueles milésimos de milésimos de segundo livres. Essa sensação deve ter esse curto espaço de tempo para eu nem sequer imaginar essa liberdade perdurando. Seria como viver de devaneios e acreditar nos sonhos mais calados. Talvez encontrar um dicionário que te ensine a viver a felicidade ao invés de pronunciá-la como um simples objetivo/substantivo. A viagem é fuga ao encontro desse momento esporádico. Há quem precise percorrer o mundo. Eu sou barata, só um papel e uma superfície sólida me bastam. Nem preciso não tocar o chão com os pés para senti-los não sentirem nada. Já gravei na memória essa sensação e é ela que persigo e persigo e persigo. Fazer de um quase insignificante um permanente. Lembro-me quando movia os pés aceleradamente, sempre acompanhados da água salgada liberada pela pele. Talvez, a adrenalina seja um jeito do corpo abençoar a busca pela ausência do chão. Você corre e corre para permanecer cada vez mais sem o chão, mas, ao mesmo tempo, você precisa dele como trampolim. Só se viaja com uma realidade solidificada para te impulsionar e incomodar. Mover os pés com velocidade é o mais próximo que se pode chegar de um mundo paralelo; com os dois pés ao ar e sobrevoando. Sinto pena e um profundo incômodo de quem não almeja essa viagem antigravitacional. Abster-se do estado mental do chão é dar lugar a uma viagem existencial saudável e viciante. Andar faz circular o sangue e qualquer ideia de vida circulante por ele. Talvez eu consiga isso pelo papel também. Os diversos segundos que a minha caneta se afasta do meu chão artificial e dá espaço aos novos pensamentos, novas letras, vogais e quebras de linha. Ou talvez não seja nada disso. Não sei... Só sei que viajo porque preciso. Volto porque quero.

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