
Fui até o meu limite. A pele rasgava por espaço e a respiração doía em cada célula viva. As que sobreviviam ao ar escasso desejavam a morte. Viver o que não pode ser revivido faz com que o corpo crie anticorpos ao novo e se envenene com a própria substância. Não sonhar com algo que não se tem fez do meu corpo uma carcaça dependente do que a mata, alimentando-se de si própria. No início, ainda era possível sentir certo prazer com isso, inventava uma lógica em que pensava ter controle. Manipulava o que vivi para não viver o que não sabia. Assim segui até esgotar a história e apenas restarem papéis amassados e linhas em branco. A caneta sempre esteve perto, mas a uma distância incalculável das minhas possibilidades. Os cotovelos criaram artrites que os impediam de esticar à frente, sob os olhos. Era preciso vencer a dor e, principalmente, criar coragem para lidar com o que viria depois. A dor nunca foi problema, mas o desconhecido sim.
Quando se dá o primeiro passo no escuro, seus olhos adaptam-se à intensidade de luz. Como subestimamos nosso corpo! Ele é tão sábio que preferimos não ouvi-lo. Nossa ignorância é nossa bênção e, ao invés de nos purificarmos através dela, engordamos com o pão e nos embebedamos com o vinho. Regurgitar o que não cabe é o início para começar a ingerir coisas boas. Mas não se engane, a ressaca não some.
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