13 de maio de 2010

1, 2, 3 e... Já!

Não estou mais à procura da idade. Era uma busca exaustiva por alguma que fizesse mais sentido do que a minha. Não consigo lidar com os números da vida, contabilizar vírgulas, pontos, reticências e etceteras. Talvez não saiba a serventia exata de se ter idade. Ter menos, mais ou igual nunca fez muito sentido. Já almejei ter 30, aliás, sempre foi meu profundo anseio. Agora, que estou muito próxima de alcançar essa utopia, o encanto parece que se perdeu em algum lugar dos 20. A idade deveria ser medida pelas marcas da alma, pelos sonhos perseguidos – perdidos ou alcançados – e pelas mãos. Certa vez, li que as mãos entregam a verdadeira idade de alguém. Não importa o quão tecnologicamente a pessoa altera-se, sua alma é vista pela mão. A minha ainda conserva certa aparência nova, apesar de não fazer nada para isso aconteça. Somente aplico cores em suas extremidades, nada a mais. Minha mãe tem as mãos calejadas. É lutadora desde nova e sua história pode ser lida pelas linhas e curvas acentuadas. A minha torna-se uma folha em branco ao lado da dela, um papel com espaços livres para presentes e futuras histórias. Apesar das diversas rasuras já rabiscadas, minhas mãos aspiram por muito mais. Quero sorver cada líquido, desmaterializar solidificações e respirar todos os possíveis cheiros e ares. Libertar-se dos números traz um alívio imponente e imediato. Expulsa os padrões, receios e arrependimentos. Equaliza as sensações por patamares de importância, deixando neuroses e atrasos em seus devidos lugares. Se você parar para pensar, tudo na vida que remete ao estresse possui número(s) envolvido: senhas, celulares, conta de banco, documentos, endereços, trabalho, estudo... Já somos apenas números para o mundo e eu não vou autodefinir-me como tal. Quero ser mais do que um dois ao lado de um seis ou qualquer parceria que vá, inevitavelmente, surgir. Consigo ver-me vivendo sem os meus números, encarando somente o que as mãos querem mostrar. Minha fonte de vida vem DELAS e do que ELAS são capazes de fazer. Foi com ELAS que abracei as folhas do Pooh e são ELAS que acarinham teclas. Somente ELAS conseguem traduzir em algo menos incompreensível o amontoado de pensamentos que vivem na minha cabeça. Nada mais justo do que deixá-las definir de quantos anos sou merecedora. Meus aniversários, a partir de agora, vão ser em homenagem a mais um ano e não a tantos anos. Vou acompanhar o passar da vida das minhas mãos, quero vê-las envelhecer lentamente, no seu tempo certo. Quando perderem sua principal função, será a minha hora de ir embora. Seria muito sofrido viver sem poder dar asas aos dedos, articulações, músculos, ligamentos e pequenos ossos. Vou viver e partir com ela.

3 comentários:

  1. q engraçado.. comentei ainda a pouco o medo que tenho de envelhecer e vejo esse texto logo em seguida!

    é isso aí quase 30!

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  2. Esse vestiu como uma luva(embora ela esconda as mãos...)!

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  3. Nossa, tenho que te contar essa, meu código para postagem foi CRONOS - acredita?

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