19 de abril de 2010

Doce utopia

Quero unir o norte ao sul
Virar para dentro e desvirar
Expulsar tudo que não cabe
Convidar o que falta
Fazer do meu corpo um meio
Ouvidos autofalantes
Boca fechada
Olhos vendo penumbra
A alma visitaria outros lugares e voltaria para me contar Pensamentos virariam dias com fim
E sonhos o despertar
Dormiria por necessidade
Acordaria pela urgência
O calado gritaria meu nome
E minha surdez seria curada
A sensação da vida esquentaria como sol de inverno
Agradável, acolhedor
Não teria que pensar em poesia
Ou em música
Minha respiração já exalaria isso, natural
Saberia escrever
E usar os dedos para acarinhar cordas
Viveria para observar pessoas
Interessante até a exaustão
Não sofreria por isso
O almejado no outro não me faria mais falta
As saudades trariam o passado
Renovado, reciclado e absolutamente substituível
As lágrimas teriam gosto agridoce e de baixa caloria
A dor nada mais seria do que prazeres sadomasoquistas
Cada sorriso renderia uma gargalhada sincera de criança
Quem eu perdi seguraria minha mão pela última vez
Os erros banhar-se-iam em um oceano de segundas chances
E, por fim, eu viraria acerto
Como queria ser como minha pinta
Acompanho lentamente o seu desaparecer
O abandono da minha pele
Desvencilhando-se da minha existência
Doce inveja, doce utopia
Será que ela volta?

2 comentários:

  1. _OHhh... in da spot! Ela morreu, creio eu,
    junto a tudo que era seu. Uma pinta faz a cena,
    nela me cabe a ¨nova idade¨; da qual quero ser mecenas, não mais escravo - Tudo pintado de vermelho! Nova alma ao acaso.

    ResponderExcluir
  2. (...) Que seja doce...! os oníricos horizontes sem fins, das imagéticas de cordel !!

    ResponderExcluir