2 de abril de 2010

Louco é quem me diz ser normal

"Há mais mistérios entre o céu e a Terra do que supõe a nossa vã filosofia". Aproprio-me da célebre frase de William Shakespeare para reformulá-la: Há mais mistérios na loucura do que supõe a nossa vã sanidade. Arrisco-me em dizer isso baseada apenas em anos – e por que não dizer uma vida? – tentando localizar em algum local que se preste na minha mente um pouquinho de normalidade. Provavelmente, já fui taxada de louca em algum momento, seja por quem me conhece ou não. A verdade é que a loucura me persegue. Não, ela não vem em forma humana assustadora e sim como algo muito mais interessante do que o normal. Não quero pregar nada além da minha percepção de louca que sou. Não apoio insanidades, atos inconseqüentes ou qualquer comportamento do tipo, apesar de já ter compreendido alguns. Apenas considero a normalidade um tanto monótona; uma regra social controladora. Exagero? Pode ser, mas é o que observo ao sucumbir à minha mania incontrolável de observar pessoas. A maioria parece permanentemente fingir ser NORMAL! Dá um trabalho danado saber quem você é. E dá um maior ainda aceitar que você nunca vai saber! Tentar encontrar nomenclaturas e criar respostas equivocadas para o eterno questionamento: “Quem sou? De onde vim? Para onde vou?” só potencializa a neurose pelo normal e expõe o nosso total despreparo para o simples existir. Até porque, quem disse que somos um só? Eu sou um corpo com milhões de possibilidades aqui dentro. Cada uma com seu momento de manifestação. A grande questão está em saber administrar esse turbilhão de pessoas moradoras do mesmo corpo. Para não parecer muito infundada, citarei um exemplo: o grande poeta português, Fernando Pessoa. Essa figura, no mínimo genial, dava voz a todas as vozes existentes dentro dele. Criou nomes, datas de aniversário e escreveu livros e mais livros a partir dessas variadas personas, seus heterônimos. Loucura? Muitos podem achar que sim. Eu prefiro chamar de libertação corporal. Libertar-se da limitação física do um e partir para uma jornada muito mais interessante: vasculhar a sua mente. Essa caixola é muito mais desconhecida e intrigante do que se imagina. Para não dizer que não falei das flores, fui conversar com o Dr. Aurélio. Cá está sua resposta ao significado de normal: “adj. De acordo com a norma, com a regra; comum”. Como alguém pode ser assim? Ou melhor, qual é a graça de ser assim? Não há uma maneira não anuladora de ser assim e é por isso que eu gosto dos loucos! Poder entrar em contato com possibilidades, vontades, gostos, aptidões e mais tantas outras manifestações do que pode trazer boas sensações. Eu gosto de David Bowie, mas posso entreter-me ouvindo Cartola. Percorrer todas as estradas abertas à sua frente, sem achar que somente uma é certa. Olhos abertos e pernas resistentes para tudo isso! O louco é visto como louco porque não tem medo de tentar. Ele enxerga as amarras e brinca de pular corda com elas. Ser louco não é perder a razão, é, justamente, saber usá-la em seu benefício. Todos se desdobram para conseguir ser um só, mais seria bem mais fácil deixar essa unidade para lá e divertir-se com o múltiplo. Enquanto o normal for o foco de uma sociedade, viveremos enjaulados em nós e distantes de qualquer sinal de equilíbrio. O padrão não existe. O normal não existe. Somos seres sem par e sem qualquer referência. O “lugar comum” não há. O que há é o que há. Ser louco não é desistir de si, é aceitar a amplitude desse si. Desista sim, mas da normalidade. Ser louco é muito mais interessante!

2 comentários:

  1. Bendito sejam os loucos..!!Pois eles herdaram a razão..!!

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  2. Acho melhor eu começar dar nomes as minhas várias personalidades, igual Fernando Pessoa. hehehehehe
    Meus amigos acham que estou enlouquecendo com tantas variações do que eu sou...
    bjs amiga

    Lu Motta
    p.s.: Vou escrever sobre isso.hehehehehe

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