15 de abril de 2010

E você, tem cheiro de quê?

Ontem fui pega pensando em essência. O que será que torna perceptível aos outros o que sou? Eu sou? Fui? Serei? Existe mais algum tempo verbal viável para esclarecer as possibilidades de existir? Algum pretérito que sirva, seja ele perfeito ou não. Do futuro ou não. A essência percebida por mim é a mesma declarada por quem pensa me conhecer? Impossível. Em um encontro de reflexos dos espelhos espalhados pelo meu quarto, provavelmente não há um ponto convergente, somente diversos pontos cegos. E são nestes que moram as minhas essências. Sim, devo ter várias e a que eu considero minha é apenas mais uma delas. Verdadeira apenas para mim. A subjetividade das verdades ganha visibilidade em cada encontro, cada tempo e espaço que possibilitam sua manifestação. Sou única, mas apenas para mim. E isso me basta. Provavelmente, não suportaria o peso, mesmo que inexistente, das essências construídas por quem passa e atropela meu caminho. Seriam toneladas de pura imaginação voltadas contra o mínimo de visão que eu conseguiria desenvolver. Essa visão cega eu não quero. Talvez seja mais saudável (?) conviver com apenas a percepção dos olhos próprios. Mesmo os meus sendo pequenos, veem o suficiente. Enxergam longe do limite imposto por mim. Quando for necessário, abro mão do que já sei e sigo por outra estrada, com outra cara, pele; outros cheiros, proporções e desproporções. A essência não será mais a mesma de alucinações atrás, mas continuará sendo minha. Outro ponto cego tornar-se-á minha lanterna interna. Ninguém terá acesso ao que for iluminado. Até porque, essa luz acende e ascende apenas para meus olhos e não para quem pensa tê-los. Há buracos negros que hão de continuar assim até que outra essência passe a fazer o mínimo de sentido. E assim segue. A luz ilumina até não iluminar mais. O que há há até deixar de haver. Minha pilha é recarregável e, mesmo sem o coelhinho da qualidade, vai suportar todas as alternâncias de luminosidade. Sejam bem-vindas as escuridões, sempre!

6 comentários:

  1. Ontem você ficou com cheiro da mistura de cerveja, cigarro e fumaça de incêndio. Trash... hehehehehe Mas eu fiquei tb...

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  2. (...)Muito bom ver os retrovisores de sua percepção estilhaçados rs..Imaginável até, é não se preocupar, com a sua "quinta essência". Bacana Tati.. é vê-la na amálgama com os exercícios dos sentidos possíveis, da percepção de um olhar periférico. És assim. E não tão nebulosa, como tirar a "carteira de motorista", sabendo dos numerosos riscos dos pontos cegos, num sábado à tarde rs..Eu acho que meu cheiro..se dissipa numa lanterna mágica da manifestação peculiar. Maravilhoso é saber que tua energia não é retida somente nos tempos ( dos verbos ) e sim estimuladas aos avanços.. siga assim nos cinco sentidos do que te municia.

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  3. "Mesmo os meus sendo pequenos, veem o suficiente. " uhauhuahua mt bom!

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  4. "Enxergam longe do limite imposto por mim"

    :)

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  5. Espelhos são perigosos, Narciso que o diga, podem embelezar, engolir, deformar: são as retinas a nos rondar! A referência NO outro difere da referência DO outro. Mesmo de olhos vendados, não há essência fixa a se revelar, o momento dita a carga da mimha bateria - as vezes é bom ficar no escuro, esperar a coisa clarear... Triste é viver com um cheiro único, isso é de amargar!

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  6. Amiga, diante de suas reflexões sinto um intrigante inquietar, delicioso, com sabor de mistério e uma lucidez extasiante.Que reponde perfeitamente o eterno intrigar da questão: Quando me pergunto.Quem sou eu? Sou o que pergunta ou o que não sabe a resposta?
    Agora, sou o que procura nos pontos cegos, aonde só eu vejo.

    Sou sua fã! Não só pelos seus textos, mas, também pela pessoa que você se tornou.Com potencial latente que lhe transformará,a cada dia, em uma mulher melhor que a de ontem.
    E,que me contamina com essa loucura sã, que só reside na alma de quem sabe do que está falando.

    "A mente que se abre a uma idéia nova jamais retornará ao seu tamanho original".
    Albert Einstein.

    TE AMO!!!

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