23 de abril de 2010

Só não vale ralar as mãos. Dói mais!

Não tenho mais pressa. Meu relógio já parou há tempos e passei a seguir com um ritmo próprio, um movimento específico de andar. A leveza dos passos de agora é fomentada pela ausência de pedras. Não carrego mais as que tropeço. Deixo-as por lá e levo comigo apenas o caminho. O chão para ligar meus pés ao que vem pela frente. Pedras são peso morto. Sem vida e sobrevida. Quem as carrega fica preso ao passado, anda lento no presente e chega cansado no futuro. Por isso eu gosto do chão. Mesmo já amando rodas, determinei o abandono àquelas. Houve ode à minha magrela; hoje uso pernas sem acessórios. Apenas uma energia corpórea. Há quem goste de transportar o que passou junto ao que está passando. Eu prefiro o uso da memória seletiva. Sim, existe uma! Eu tenho. Comprei em uma promoção e parcelei pelo resto da vida. Quando preciso recorrer a ela, olho para os joelhos e encaro as marcas de cada tropeço. O que importa de cada pedra está lá. O corpo traz os indicativos das resultantes de cada ação; a lembrança da dor, do sangue, da casquinha e da marca que te acompanhará. Não preciso carregar pedras. Meu corpo fala comigo e eu aprendi a ouvi-lo. É tão simples... Quando ouvir não basta e andar parece percorrer círculos, eu escrevo. Todos os sons e estradas que me guiariam ganham forma no papel. Mãos guiadas pelo inconsciente também levam ao longe, mas em uma velocidade mais relativa. Linhas por hora, palavras por minuto... Não sei ao certo. Também não tenho velocímetro. Perdeu-se com o relógio e com qualquer capacidade de medir as coisas. Certo e não-certo, amor e não-amor, coragem e não-coragem, medo e não-medo. Nem os antônimos das palavras eu atrevo-me a medir. Talvez seja mais coerente prefixar o não e deixar meu joelho evidenciar o resto. Acho injusto com as palavras supor que não signifiquem apenas uma coisa. Deixe que o não assuma as possibilidades de cada um. Pedras, caminho, memória seletiva, joelho, machucado no joelho e nãos. Na próxima vez, eu vou tentar alinhar a circunferência e andar. Meu inconsciente está rodando muito, estou tonta e sem entender bulufas. Vou sair para ralar joelhos.

2 comentários:

  1. "Sim..eu estou tão cansado, mas não para dizer, que não preciso mais de você...! com minhas calças vermelhas, meu casaco de general...cheio de anéis, eu descendo por todas as Ruas...!!Eu não preciso de muito dinheiro..graças a Deus, e não me importa..não me importa não..a minha Honey..Baby...Baby..!! ( Waly Salomão ) Rale seus joelhos, na esperança da fé que te acompanha...!! rale seu olho, na esperança da poesia..que você bebe sem ardência..!! rale seus dedos...na poesia, de como agarra o sol com as mãos ! Rale sua consciência...para despir as sincrasias do mundo ! A "memória é o um sadismo de olhar, sem jogar areia ( ou pedra )no caminho de nínguém. Sua letra não é um buraco. Sua fé é o seu jogo de cintura.

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  2. joelhos falam à bessa!

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